sábado, 12 de maio de 2012

ROMÁN!


Um intenso debate preocupou os observadores da Libertadores da América durante a primeira fase do certame: seria este Boca Juniors um novo Boca? Ou estamos diante da continuação do VIEJO BOCA, o multicampeão que apavorou a América nos anos 2000 com altas doses de paciência e pragmatismo? Ninguém sabe, é claro. Mas, na noite de ontem em Santiago, ficou claro que Juan Román Riquelme está fazendo a sua parte para reeditar o futebol vencedor das eras de Bianchi e Basile, aquele Boca que acumulou quatro canecos continentais a partir de 2000. Em três lances, Riquelme desmontou a defesa do Unión Española e classificou os xeneizes para as quartas-de-final da Copa. Flu e Inter se matam na noite dessa quinta para ver quem terá a missão de encarar a esquadra azul y oro na próxima fase. 
Tanto na Bombonera quanto no Santa Laura, os hispanos não se encolheram e foram atrás do resultado. Nos primeiros movimentos, Jaime chutou cruzado e perdeu uma boa chance. Mas a classificação boquense começou a se tornar irreversível logo aos 25 do primeiro tempo. O camisa 10 tinha uma falta para bater no lado direito da intermediária de ataque. Podia jogar pelo alto, sem qualquer imaginação, como faria um jogador comum pagador de impostos. Mas parece que o Boca tinha ensaiado uma jogada. Em vez de usar o jogo aéreo, Riquelme bateu rasteiro, solicitando à bola uma curva procurante que encontrou Insaurralde dando um carrinho no segundo poste. Os jogadores comemoraram com a cumplicidade de quem sabe que o gol não tinha saído por acaso.
A partir daí, os chilenos tinham que fazer dois para levar a contenda aos pênaltis. E não foi por falta de iniciativa. Vecchio chutou uma pilha de bolas em gol, levando perigo a Órion pelo alto, de longe, pelo lado. Aos 43 do segundo tempo, um hispânico qualquer cabeceou forte para defesa do arqueiro xeneize e, no rebote, Herrera chutou na FORQUILHA de Órion. Dois minutos depois, Jaime girou dentro da área e concluiu em cima do goleiro do Boca. Não era jogo fácil para a equipe de Falcioni. Mas assim é a VIDA do Boca: o adversário cresce, ocupa espaços, Schiavi sente o ciático, Órion espalma para todos os lados. Nos intervalos, o Boca segura a bola, gasta o couro, mas parece que nada – JAMAIS – vai acontecer.
Pouco mudou na volta do intervalo. Até que, aos 15 minutos, um zagueiro hispânico teve um TRECO e, em vez de chutar para o, sei lá, PACÍFICO, o rapaz se desmanchou diante de Román. Sozinho diante do goleiro Lobos, o craque segurou a bola, tirou o relógio do bolso e aguardou p-a-c-i-e-n-t-e-m-e-n-t-e a passagem de Mouche. Riquelme deu o tapa pro lado no instante ideal, momento de perfeição físico-cinética, e o camisa 7 só teve o trabalho de empurrar para dentro sem derramar suor. Muito jogador teria dado um bico doido ao roubar a bola do pobre zagueiro. Riquelme aguarda. Aguarda até que os movimentos dos ASTROS determine que chegou a hora de passar a bola para o único destino possível – o gol.
Dois minutos depois, Vecchio encontrou Pineda na área, que colocou fora do alcance de Órion. O gol hispânico significava pouca coisa aos 18 minutos do segundo tempo, apenas o suficiente para deixar a partida minimamente interessante ainda (os chilenos precisavam de mais TRÊS gols para reescrever esse roteiro). Mas, aos 23, Mouche puxou o contra-ataque e lançou Riquelme pelo lado direito. O pibe se fez de VELHO e ingressou devagar na área como um popular que entra na loja de roupas elegantes e diz ESTOU APENAS OLHANDO ao vendedor. Quando a zaga se movimentou para lhe tirar a bola, Román passou pelos dois sem esforço. Um terceiro ainda parecia interessado em lhe roubar, mas Riquelme o superou e tocou na saída de Lobo.
Um golaço. É tudo tão fácil que me surpreendo ao ver o vídeo e perceber que Riquelme está suando. Não parece fazer qualquer esforço.
Logo depois, o Unión Española ainda teria um pênalti. Herrera bateu, Órion defendeu, mas Jaime balançou o barbante no rebote e decretou os 2×3 finais. Os hispânicos continuaram, com HOMBRIDADE, a erguer bolas na área em busca de um milagre furtivo. No entanto, arrisco dizer que os próprios chinelos só pensavam numa coisa: COMO JOGA ESSE RIQUELME!
Nesta quinta, às 22h, Fluminense e Inter se encontram no Engenhão. Quem se classificar, terá o Boca pela frente. Seja como for, será um grande embate. Inter e Flu eliminaram os argentinos recentemente de competições sul-americanas (os vermelhos em 2008 pela Sulamiranda e os tricolores pela Libertadores do mesmo ano). Foram os dois clubes responsáveis por encerrar aquele ciclo vencedor do Boca. Pelo menos era o que se suponha até agora. Riquelme, depois de uma apresentação de VELUDO, CETIM E CONFIT DE PATO, parece animado para ressuscitar EL VIEJO.
Postado originalmente no Impedimento (http://impedimento.org/2012/05/09/roman/) pelo Alexandre de Santi.

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