sábado, 5 de maio de 2012

O luxo das vitórias mínimas


Talvez o Boca Juniors de Júlio César Falcioni seja, junto do Corinthians, o time mais pragmático desta Libertadores. Some-se a isso não apenas os seis títulos conquistados, mas também a MAROTICE adquirida em campanhas que culminaram em nove finais (em 22 participações) e o que temos é uma equipe TALHADA para disputar as fases eliminatórias. Na primeira partida contra a Unión Española, a primeira pelas oitavas-de-final, esta estratégia do SE HACIENDO DE CHANCHO ficou mais comprovada do que nunca, pois, mesmo sem uma grande atuação, a equipe azul y oro leva a vantagem de 2 a 1 para o Chile.
O time xeneize esteve longe de realizar uma atuação vistosa, mas conquistou uma sempre fundamental vitória – ainda mais se observarmos o retrospecto de outros anfitriões nestas oitavas. Mas na primeira etapa os argentinos sentiram um certo arrepio na peladura. Como vocês leram aqui antes do início da competição, a Unión Española era um time PROMISSOR e, até aqui, cumpridor. Tudo que não tem de cancha e tradição, mostra de desempenho. Em plena Bombonera, enfrentou o maior time da Era Moderna da Libertadores em condições de igualdade, até criando mais chances que os locais. Graças a um meio-campo comandado por CORDEIRO e Mauro Díaz, ex-jogador e torcedor assumido do River, que sozinho conseguia LUDIBRIAR dezenas de xeneizes, além dos volantes Villagra e Leal, que formavam um setor consistente, tomando os espaços. Juntos, eles deixaram em condições iluminadas os atacantes Jaime e Herrera por algumas vezes. Mas, quando Órion não estava atento, a pontaria falhava.
Este aparente domínio de LA GRIPE ESPAÑOLA, como o time chileno será conhecido a partir de agora, no entanto, era a senha que anunciava o gol xeneize para todos aqueles mais atentos aos caminhos tortuosos que descortinam LA COPA. O time de Falcioni, que só havia chegado com chutes de longe e algumas escaramuças aleatórias na área, viu a bola cair no pé sempre RECEPTIVO de Riquelme, que escorou para Cvitanich, que devolveu ao já veterano maestro, e daí o chute cruzado morreu nas redes. O camisa 10 era dúvida antes da partida. Naquela altura do jogo, o Boca encontrava enormes dificuldades para atacar. Seus laterais, Sosa e Clemente Rodriguez, não se aventuravam e, apesar de Riquelme e Erviti aparecerem bastante, não conseguiam SUPRIR o ataque, onde EL TANQUE Santiago Silva arregalava os olhos e bufava como um touro DEPILADO.
Para a segunda etapa, a situação alterou-se. O Boca Juniors conseguiu permanecer um bom naco de tempo com a bola, rondando a área chilena e levando alguma preocupação ao arqueiro LOBOS. Também conseguiu reduzir os espaços de Diaz e Cordeiro, de forma que impedia a equipe treinada por SIERRA de construir chances similares às que desperdiçara no começo. Mas o pragmatismo do Boca – de tentar atacar com parcimônia, de supor que detém a coordenação de todos os movimentos – acabou pendendo para certo ENFADO, até mesmo soberba, e justamente quando os chilenos pareciam inofensivos, aconteceu o gol de empate. Uma bola espanada do campo de defesa foi cabeceada de forma bisonha por Sosa para o centro da área e sobrou para JAIME invadir e deslocar Orión.
Com a tranca arrebebentada e aquele famigerado gol em casa sendo uma dura realidade, não restou ao Boca outra alternativa que adotar a tática do CORRALITO. Passou uns bons quinze minutos rondando a área adversária, já com Mouche como jogador mais agudo, Riquelme girando de um lado para outro, bailando sobre a bola – não mais aquela CÚMBIA dos áureos tempos, anos atrás, mas um ainda cumpridor e compassado bolero da velha guarda. Numa destas estocadas, Erviti driblou uma porção de adversários, invadiu a área e chutou na trave.
Quando tudo parecia arrefecer, uma bola espanada repicou em Mouche e sobrou para Riquelme, que acionou o atacante. Pela esquerda, Mouche, um atacante que entra com frequência, cruzou para a entrada da área, no exato ponto onde Santiago Silva, que vinha em desabalada carreira, executou um salto magistral e uma cabeçada fulminante, vencendo Lobos assim como venceria uma alcateia de arqueiros perfilada sob a trave. E ainda tivemos tempo para Scotti, ex-Nacional, tentar DESCADEIRAR Riquelme com um vistoso e largamente gratuito RABO DE ARRAIA por trás, recebendo a roja, mas de alguma forma sentindo-se aliviado pelo estresse da rotina.
O vencedor deste confronto depara-se nas quartas-de-final com Fluminense ou Inter. A segunda partida ocorre em 10 de maio, uma quinta-feira, às 19h30. O Unión Española deixou escapar um resultado MAGÂNIMO dentro da Bombonera, mas é um time que sabe jogar e que já mostrou se atrevido. No entanto, arrisco dizer que o Boca Juniors passa, até com certa tranquilidade – o considerava FAVORITO mesmo se persistisse o empate em 1 a 1. O quadro do segundo jogo parece já me saltar aos olhos agora: time incendiado jogando em casa, por nosotros e pela história, pelo passado e pelo futuro, com a torcida inflamada. Atira-se sobre o Boca como um bêbado entre lençóis, todo enrolado, e sofre um gol de contragolpe. E depois, tentando recuperar-se, leva mais um. E assim a noite inteira, até o fim dos tempos. A menos, é claro, que sejam apenas nossos olhos viciados que ainda enxergam no time da Bombonera um certo caráter infalível que talvez ele já não tenha mais capacidade de ostentar.

Postado originalmente no Impedimento (http://impedimento.org/2012/05/03/o-luxo-das-vitorias-minimas/) pelo Douglas Ceconello.

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