A carranca de Falcioni no banco xeneize tem explicação (Reuters) |
Tiago de Melo Gomes, @melogtiago
De Recife-PE
O Boca Juniors está invicto há 32 partidas, conquistou com folga o Apertura 2011 e chega forte à Libertadores, já que manteve seus jogadores e fez boas contratações. Venceu os superclássicos de verão e ainda saboreia a luta do River Plate, seu eterno rival, para voltar à primeira divisão. Tudo azul no “Mundo Boca”?
Nem um pouco. Ontem o treinador Julio Cesar Falcioni chegou a colocar seu cargo à disposição após uma acalorada discussão com Juan Román Riquelme, na qual todo o plantel tomou o partido do capitão xeneize. O treinador foi convencido pelo presidente Daniel Angelici a voltar atrás em sua decisão. Mas o ambiente segue pesado. Afinal, todos os componentes para manter a tensão em alta seguem inalterados.
A discussão que ocorreu nos vestiários após a estréia contra o Zamora mostra um quadro de tensão acumulada. Tudo começou por algo muito simples: Falcioni pediu ao atacante Dario Cvitanich que jogasse caindo pelos lados, enquanto Santiago Silva deveria atuar fixo como centroavante. Irritado por ver o jogador se posicionando dentro da área, sacou-o no fim do jogo, para o ingresso de Mouche.
Até aí nada demais. Mas o treinador descarregou sua fúria em Cvitanich, dizendo-lhe: “te tirei porque quero que obedeça a mim, e não a Riquelme”, claramente crendo que o camisa 10 havia instruído o jogador a desrespeitar as ordens do treinador. O atacante chegou furioso ao vestiário e contou aos colegas o que havia ocorrido. Uma forte discussão começou, envolvendo Falcioni e Riquelme, até que Erviti pediu a palavra e disse: “perdão Julio, mas fui eu quem pediu a Cvitanich para jogar mais centralizado, Riquelme nada tem a ver com isso”.
Instantaneamente todo o elenco tomou partido do camisa 10. Falcioni pediu desculpas mas se tornou evidente que o plantel estava indisposto com o treinador. Seguro de que o capitão xeneize comanda um motim contra ele, Falcioni concluiu que não havia mais como trabalhar com o jogador, e por isso pediu o boné ao presidente durante a viagem de volta.
Angelici contemporizou. Se reuniu com as demais lideranças do grupo e escutou delas que os jogadores não agüentam mais serem criticados pelas costas pelo treinador. Por seu lado, Falcioni acabou por reconhecer que estava errado na briga ocorrida nos vestiários. Uma rápida reunião hoje pela manhã antes do treinamento selou a continuidade de Falcioni.
Mas a que preço? A princípio, o cenário não é dos melhores para Falcioni. O treinador parece ter perdido completamente sua liderança sobre o elenco xeneize. E a explosão do treinador não foi gratuita. Desde a eleição de Angelici, no final de 2011, o treinador vem notando sinais de que não é o nome dos sonhos da direção. E com isso Riquelme, que até então vinha se comportando discretamente, passou a se mostrar mais ousado.
Em uma entrevista, o camisa 10 se referiu à partida contra o All Boys, há quase um ano, quando estava afastado do restante do elenco, e se queixou de que naquele dia enquanto os outros jogavam ele “corria feito um idiota”. Após a sofrida classificação nos pênaltis pela Copa Argentina, declarou que “melhor começarmos a jogar futebol, um dia a sorte acaba”, um claro eco às vozes que crêem que o Boca “vence mas não convence”.
Se Riquelme tem uma personalidade difícil, Falcioni não fica atrás. O treinador tem um longo histórico de problemas de relacionamento nas equipes que dirigiu. Diversos ex-comandados não escondem sua ojeriza a ele, tido como frio e distante. Bichi Fuertes, do Colón, se refere a seu antigo treinador como “o pior técnico que já tive. Como pessoa deixa muito a desejar”. O também atacante José Sand, que também trabalhou com Falcioni na equipe Sabalera, disse algo parecido: “Falcioni foi um dos piores treinadores que tive, senão o pior. Não aprendi nada com ele”.
E com Riquelme (e a maior parte do plantel) e Falcioni em rota de colisão, caberia à presidência administrar a situação. Mas Daniel Angelici nada mais é do que um preposto de Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do clube. Empresário de sucesso e politicamente ligado à UCR, Angelici é politicamente fraco no clube, devendo sua eleição a Macri. E sua intervenção na peleja Falcioni-Riquelme/plantel mostra claramente que sua intenção é não polemizar. Mas se sua vontade é não desagradar ninguém, Angelici pode correr o risco oposto: o de ser odiado por todos.
Afinal, o entorno de Falcioni vê indícios de que a presidência não está disposta a dar o respaldo que o treinador acredita necessitar. E já ficou claro que a facção riquelmista da imprensa portenha não tolera mais Julio Cesar Falcioni. Avaliam que o presidente escolheu morrer abraçado com o treinador, ao invés de se livrar dele. É possível que o craque e boa parte do elenco vejam a situação da mesma forma.
Se dentro de campo as coisas vão bem, fora dele o “mundo Boca” ferve. O que está longe de ser uma novidade.
Postado originalmente na Total Football (http://revistatotalfootball.blogspot.com/)
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