Há um terreno fértil para as ideias fáceis no futebol (e na vida). O grupo 4 da Libertadores está recheado delas. Santiago Silva não faz gols pelo Boca? Está em má fase. Fluminense tem a melhor campanha da Copa? É favorito. O Boca sofre para ganhar? Não é mais o mesmo. Tudo preto no branco – aparentemente. E tudo falso ao mesmo tempo. A única certeza parece ser aquela que todos sabiam desde o início: o Zamora realmente não joga nada.
Vamos começar pela primeira: a má fase de El Tanque. Contratado por empréstimo à Fiorentina após uma bagunça jurídica que envolveu toda sorte de advogados e atravessadores, Silva chegou à Bombonera para fazer os gols que o fantasma de Martín Palermo impedia. Apósgrande temporada pelo Vélez em 2011, quando a turma do Fortín só não chegou à final porque o próprio Silva escorregou na hora de bater um pênalti, o goleador uruguaio foi jogar na Itália. Em 17 partidas, marcou um único gol. Na volta ao Boca, deu tudo “errado”. Não marcou ainda. Sob o olhar das ideias fáceis, a saída óbvia seria colocar o centroavante no banco, afinal, um atacante vive de gols.
Mas o DT, Julio César Falcioni, mantém El Tanque em todos os jogos. Ninguém questiona sua titularidade. E NINGUÉM TÁ LOCÃO. A realidade é mais complicada do que a ideia fácil. O ataque do Boca é o melhor do Clausura 2012, com 13 gols em 7 partidas. Silva incomoda a zaga, briga, prende a bola na frente. E, principalmente, faz coisas como as que fez na noite desta quinta, com o Arsenal de Sarandí. Num jogo complicado, em que o Boca ficou com um a menos desde os 37 do primeiro tempo, quando Somoza levou o segundo amarelo por GROSSURA e desceu as escadarias da Bombonera mais cedo, Santiago Silva deu dois passes absolutamente magistrais para seus companheiros e garantiu a vitória que praticamente colocou o Boca nas oitavas-de-final da Libertadores. O vídeo fala sozinho. Eu queria um centroavante desses que não fizesse gol no meu time.
O jogo terminou 2×0 pro Boca. O Arsenal em nenhum momento soube se aproveitar da superioridade numérica. Carbonero e Leguizamón, como sempre, foram as figuras lúcidas da equipe do Viaducto. O Boca, como sempre, jogou pouco, foi lento, e não deu a menor pinta de que iria passar do meio campo. E aí estamos diante da segunda ideia fácil: o Boca não é mais o mesmo. E talvez não seja, mas cabe aqui lembrar de uma máxima que ronda as cercanias da Bombonera: solo empieza en los octavos. Para os grandes, a fase de grupos é o momento de queimar uma graxa e economizar energia para a fase quente da competição. Como já alertamos aqui, de que serve sair goleando na primeira fase? Pegar um adversário mais fraco? Lembrem-se que, dependendo do grupo, o segundo colocado é melhor que muito líder de grupo. A boa campanha na primeira serve só tem uma consequência garantida: chamar a atenção dos auxiliares dos técnicos do continente para analisar a tua equipe aos detalhes. Me ocorreu agora que ser auxiliar técnico deve ser o melhor emprego do mundo. O cidadão é pago para viajar vendo futebol em todas as canchas míticas das Américas e fazendo rabiscos num guardanapo. Quando dá tudo errado, o demitido é o chefe. Mas divago.
Imaginem se Santiago Silva continuar servindo os companheiros assim E começar a marcar gols? Desde o início da competição, Falcioni já se convenceu do óbvio, que Ledesma precisa jogar nesse time. O Boca só tende a crescer.
Texto originalmente postado no Site Impedimento ( http://impedimento.org/ ) pelo Alexandre de Santi.