Foto: El Gráfico |
River conquista segunda Libertadores após dez anos e em cima do mesmo adversário: América de Cali encarna maldição sul-americana com quatro finais e quatro derrotas, sendo três delas consecutivas
Era um dos maiores uruguaios que o futebol já viu. Com a bola nos pés, um gênio, sem ela, um líder. Em sua segunda passagem pelo River Plate, Enzo Francescoli encantou a América em seu último título como profissional. Antes de se aposentar no início de 1998, o Príncipe deu ao clube que o lançou ao estrelato. Os Millonarios também sentiriam saudade daquele tempo, já que foi a última taça internacional levantada pelos lados do Monumental de Núñez.
Em 1996, uma geração dourada do River se consagrou na Libertadores frente o América de Cali, que vivia uma época impulsionada pelo dinheiro dos cartéis colombianos. Casando a juventude de vários garotos com a experiência de Francescoli, os Millonarios enfrentaram na primeira fase os conterrâneos do San Lorenzo e os venezuelanos do Minervén e Caracas. Sem grande dificuldade, somaram quatro vitórias (justamente contra o San Lorenzo, por 1-1 e 0-0) e dois empates para avançar às oitavas de final.
Os 14 pontos vieram com boas vitórias diante dos venezuelanos, com destaque para goleadas por 4-1 no Minervén fora de casa, e 5-0 sobre o Caracas em Buenos Aires. Não foi nada mais que um passeio no parque a primeira fase daquela Libertadores. Entretanto, o plantel de Ramón Díaz ainda tinha muito o que provar. Seria matando ou morrendo entre os 16 melhores da competição.
Passeio na primeira fase, osso duro de roer no mata mata
Chaveado contra o Sporting Cristal, decidiu sua vida no Monumental, em 8 de maio. Sofrendo com a altitude peruana, o elenco sofreu sua primeira derrota naquela edição, por 2-1. Num jogo duro, faltoso e com melhores chances para os mandantes, o River voltaria para a Argentina com uma pequena desvantagem na mala, nada que não pudesse ser revertido em seus domínios.
Com a faca entre os dentes, Francescoli e seus comparsas atropelaram a celeste peruana por 5-2 e com muito mérito avançaram até as quartas de final, onde novamente encontrariam o San Lorenzo. Tido como um dos favoritos ao título, ao lado do América e do Grêmio, os Millonarios lidaram bem com a responsabilidade de ser um dos times mais visados na ocasião.
Não poderia ser diferente contra o Cuervo: mais sufoco nos dois confrontos. Mesmo jogando no Cilindro, o River conseguiu o que precisava e deu um passo fundamental rumo ao título. 2-1 na casa do adversário. Apenas um empate em 1-1 assegurou a sobrevivência dos meninos de Díaz na Libertadores.
Díaz realmente sabia onde seu grupo iria chegar. Uma formação que privilegiava o talento de pratas da casa, garantia a ofensividade e quando prendia a bola, o River sabia o que fazer com ela. Com excelente passe e muita técnica quando Sorín, Ortega e Almeyda dominavam, ficava fácil chegar ao ataque. Os homens de frente, Crespo e Francescoli davam o toque final e letal. E assim foi marchando com imponência o River, que nas semifinais precisava derrubar a Universidad de Chile a fim de chegar na decisão.
Em Santiago, uma missão duríssima. Vencer o paredão defensivo de La U. Saindo na frente com Francescoli, a equipe argentina levou a virada com gols de Valencia e Salas. Não fosse o gol salvador de Sorín, a história seria completamente outra. A questão principal agora seria resolvida por uma margem estreitíssima.
De volta a Buenos Aires, foi Almeyda quem permitiu que os Millonarios colocassem seus pés na finalíssima diante do América de Óscar Córdoba, Bermúdez, Berti e Alex Escobar. Aos 33 da primeira etapa, o Monumental tremeu com o gol do menino Matías. Dez anos depois do primeiro título, o River estava novamente nas cabeças do continente. E por coincidência contra o mesmo América de Cali, que é o maior vice que a Libertadores já viu.
Contra o River e a pecha de vice
Cheios de ginga, os colombianos estavam determinados a acabar com a pecha de perdedores da década anterior. Os anos 1980 foram deveras crueis com a apaixonada torcida dos Diabos Vermelhos, que amargaram três derrotas consecutivas em finais sul-americanas, de 85 a 87. Em 1996, alguns atletas que brilhariam pela seleção cafetera ou até mesmo pelo Boca Juniors (caso de Córdoba e Bermudez) sonhavam em mudar o panorama desanimador de chegar longe e não levantar taças.
Herdando a principal característica do futebol colombiano, o América era veloz e tinha muita habilidade. Antony De Ávila era o responsável por balançar as redes e em 19 de junho de 1996, no Pascual Guerrero, em Cali, o atacante cumpriu com excelência sua função. Aos 26, venceu a defesa argentina para anotar o único tento daquela noite. Foi o 11 gol dele, que se sagrou artilheiro daquele torneio.
Consagração mesmo seria a palavra chave para outro delanteiro naquele duelo. O Monumental recebeu seus heróis de braços abertos para a hora da verdade. Em 26 de junho, uma festa inesquecível tomou Buenos Aires, assim como dois anos antes com o Vélez Sársfield e que se repetiu em outras cores com o Boca, em 2000, 2003 e 2007. Fato é que o momento era do River, que aproveitaria da melhor forma.
Ortega recebeu e carregou na direita. Cruzou até o meio da área e Crespo por entre três beques completou. 1-0, logo aos seis minutos inaugurou o placar, igualando o agregado. Atacando como se não houvesse amanhã, os Millonarios golpearam a retaguarda oponente. Aos 14 da segunda etapa, uma besteira enorme de Córdoba e só grito ecoou na capital argentina: GOL. Gol de Crespo, gol do River Plate, gol da Copa. Outra vez foi Ortega quem lançou a bola para dentro da área. Sem goleiro na baliza, o América levou o segundo, para sacramentar mais um naufrágio.
Para o capitão Francescoli, o ensaio perfeito para o adeus. Levantando a taça com a qual sonhou por anos e não pode conquistar em sua primeira passagem pelo Monumental, o uruguaio era só sorrisos e representava como poucos o que era aquele River: guerreiro, genial e encantador. O aspecto da equipe era um reflexo de seu líder, que soberano alcançava uma de suas maiores glórias. O legado do uruguaio é lembrado até hoje pela torcida millonaria, assim como o derradeiro grito de campeão.
River: Burgos, Hernán Díaz, Celso Ayala, Guillermo Rivarola, Altamirano (Sorín) Escudero (Gómez), Almeyda, Cedrés, Ortega (Gallardo), Crespo e Francescoli. Téc: Ramón Díaz
América de Cali: Córdoba, Asprilla, Bermúdez, Dinas, Maziri, Cabrera, Berti, Escobar, Oviedo, Zambrano e De Ávila. Téc: Diego Umaña
Campanha: 14 jogos, oito vitórias, quatro empates e duas derrotas. 28 gols marcados, 12 sofridos.
Jogos
Primeira fase
San Lorenzo 1-1 River Plate
Minervén 1-2 River Plate
Caracas 1-4 River Plate
River Plate 0-0 San Lorenzo
River Plate 5-0 Minervén
River Plate 2-0 Caracas
Oitavas de final
Sporting Cristal 2-1 River Plate
River Plate 5-2 Sporting Cristal
Quartas de final
San Lorenzo 1-2 River Plate
River Plate 1-1 San Lorenzo
Semifinal
Universidad de Chile 2-2 River Plate
River Plate 1-0 Universidad de Chile
Final
19 de junho de 1996 - Pascual Guerrero, Cali
América de Cali 1-0 River Plate
26 de junho - Monumental de Núñez, Buenos Aires
River Plate 2-0 América de Cali
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Postado originalmente no Blog Total Football (http://revistatotalfootball.blogspot.com.br/2013/01/a-ultima-de-francescoli.html) por Felipe Portes.
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