domingo, 14 de julho de 2013

Renascendo de Lepra, parte 2

O caminho do Newell's que o Albiceleste Brasil retraça, rumo à recuperação de sua auto-estima, segue na segunda parte deste especial, que tratou no texto de sábado das campanhas do rojinegro entre 2010 e 2012. Neste complemento, vamos aprofundar o primeiro semestre deste ano, que entrou para a história do clube rosarino e certamente vai marcar uma geração de torcedores, assim como marcou e endossou a idolatria de uma geração de jogadores - e de um treinador muito acima da média.

Azeitando a máquina

O final de 2012 havia sido promissor. O time montado para fugir do descenso se tornou um dos melhores da Argentina, alcançando o vice-campeonato do Torneo Inicial daquele ano. (ao contrário do que dissemos no texto de ontem, Cáceres e Maxi Rodríguez já estavam naquele time.) Scocco cada vez mais se mostrava um atacante letal, e a estrutura do time montado por Tata Martino se consolidava a cada jogo, mostrando um futebol ofensivo, envolvente e de altíssima qualidade, comandados dentro de campo pelo citado centroavante, Maxi Rodríguez e Pablo Pérez, que retornou ao clube sem nenhum alarde, e se tornou um dos pilares do time. O primeiro semestre de 2013 reservava ao Newell's as disputas do Torneo Final e da Libertadores da América, obsessão do clube. Na competição local, o início foi claudicante. Uma derrota em casa por 3 a 0, contra o Lanús, e um empate contra o fraco San Martín, de San Juán, colocaram em xeque a capacidade da equipe.

Os problemas de se dividir entre duas...

Pablo Pérez fez gol importantíssimo
contra o Deportivo Lara (foto: El Sol Online)
Na rodada 4 do Inicial, o Newell's venceu bem o Belgrano, em Rosario, mas no meio da semana seguinte recebeu a Universidad de Chile, pela última rodada do turno da 2ª fase da Libertadores. A derrota por 2 a 1 deixou o time com 3 pontos em 3 jogos, precisando de uma campanha próxima da perfeição para se classificar às oitavas-de-final. Na revanche contra o time chileno, fora de casa, vitória por 2 a 0, e tranquilidade para focar no torneio doméstico no restante do mês de março. Deu certo, e março foi perfeito, com 4 vitórias em 4 jogos e a chegada no líder Lanús. Dali em diante, o time não desceria da vice-liderança. Abril começou com uma vitória sobre o Deportivo Lara, em Rosario, com 2 gols de Scocco - que chegava aos 4 na competição, em 5 jogos -, mas seguiu com uma derrota em casa, para o Colón, quando jogou com time misto. O time parecia sentir as dificuldades de conciliar duas competições importantíssimas, e parecia que ia botar tudo a perder mais cedo do que se imaginava.

Balança, não cai e embala

Scocco passa por Sosa para dar o
tiro de misericórdia no Vélez Sarsfield
(foto: Télam)
E quase botou. Mesmo tendo poupado seus principais jogadores, o Newell's foi a Assunção para garantir sua vaga, que só seria perdida caso sofresse uma goleada e a Universidad de Chile goleasse o Deportivo Lara, na Venezuela. La Lepra "fez sua parte" e foi massacrada no Defensores del Chaco, levando 4 a 1, em grande noite do uruguaio Salgueiro. O Newell's terminava sua participação na fase de grupos da Libertadores com 3 vitórias e 3 derrotas, se classificando pelo saldo de gols, na 2ª colocação do grupo 7 - uma vitória e uma derrota contra cada time da chave. O emparelhamento nas oitavas colocou o Rojinegro diante do atual campeão argentino, o Vélez Sarsfield. Foram duas verdadeiras batalhas. A classificação veio no gol qualificado, vencendo o Fortín em Liniers por 2 a 1, depois de ter perdido em casa por 1 a 0. No somatório das atuações, o Newell's impressionou a América do Sul, pois o Vélez sempre é cotado como um dos favoritos na Libertadores e, até então, o NOB era apenas um clube do interior argentino em ascensão.

Os 26 pênaltis que entraram para a história

Newell's desenvergou o varal e
despachou o Boca Juniors de La Copa
(foto: A Puro Gol)
Se a batalha anterior havia sido contra a qualidade, as quartas-de-final reservavam um duelo contra a tradição e a camisa "enverga-varal" do Boca Juniors, hexacampeão da Libertadores. Mas era "apenas" a camisa, pois dentro de campo os Xeneizes chegavam àquela etapa aos trancos e barrancos. Dois empates sem gols em jogos onde o Boca apenas se defendeu, e a decisão de uma das vagas às semi-finais seria decidida na marca da cal. Eu acompanho Libertadores da América com mais atenção há pelo menos 12 anos, e não lembrava de uma decisão tão longa. Foram necessários absurdos 13 pênaltis para cada equipe decidir seu futuro em La Copa. Na 26ª cobrança, Maxi Rodríguez converteu e classificou o time rosarino para enfrentar o Atlético Mineiro, time de melhor campanha na competição. A Libertadores pararia por todo o mês de junho, e apenas em julho seriam disputadas as semi-finais. Mas o Torneo Final continuava, firme e forte...

A glória no Dia da Bandeira

A festa dos jogadores do Newell's.
Aliás, belo visual do artilheiro Scocco...
(foto: Fútbol para Todos)
No mês de maio o Newell's chegou à liderança, ao bater o Godoy Cruz, em Rosario. O time contou com a sorte, com um Lanús que abusou do direito de empatar - mesmo motivo que tirou o título da Lepra no Torneo Inicial - e com um River Plate altamente instável. O massacre sobre o rebaixado Unión, combinado com a derrota parcial (o jogo fora interrompido) do Estudiantes sobre o Lanús, praticamente dava o título ao clube rosarino. O Granate respirou por aparelhos após golear o River Plate por 5 a 1, no mesmo domingo em que o Newell's bateu o Atlético de Rafaela por 3 a 0. Na tarde do dia 20 de junho, Dia da Bandeira na Argentina, o Lanús foi tentar sua façanha - virar um 2 a 0 contra o Estudiantes em 45 minutos, fora de casa. Não conseguiu, e La Lepra saía da fila de 9 anos sem título, conquistando o seu 6º campeonato nacional na história. Como nem tudo são flores nesta história, as derrotas para o Argentinos Juniors, na última rodada do Final, e para o Vélez Sarsfield, na chamada SuperFinal, colocaram a capacidade do time em dúvida, às vésperas de encarar o melhor time da Libertadores.

Não foram 26, mas foram pênaltis

Maxi Rodríguez lamenta pênalti
 decisivo desperdiçado contra o Atlético
(foto: Diario Olé)
No sábado o Newell's perdeu para o Vélez, na SuperFinal, e na quarta-feira já recebia o Atlético Mineiro, em um Coloso del Parque abarrotado e em chamas. Impondo um futebol intenso e submetendo os brasileiros a uma pressão insuportável, La Lepra venceu por 2 a 0, gols de Maxi Rodríguez e Scocco, que se tornava o artilheiro da competição, e conseguia gigantesca vantagem para a volta no Brasil. Os mineiros criaram todo um clima no entorno do jogo, incluindo uma queda de luz forçada na parte final do jogo, pouco antes do 2º gol atleticano, que levou a decisão novamente para os pênaltis. O destino colocava o futuro e o projeto do Newell's de ganhar a América novamente na marca da cal. O Rojinegro teve duas oportunidades de passar à frente, após Jô e Richarlyson desperdiçarem suas penalidades; Casco e Cruzado também erraram na sequência. O último e decisivo penal foi cobrado por Maxi Rodríguez, que voltou a encerrar uma decisão por pênaltis, desta vez parando no goleiro adversário.

Há vida depois de Tata?

O técnico Gerardo Martino havia anunciado, ainda antes da Libertadores, que sairia do clube depois da Copa. Pode haver um desmanche também no grupo de jogadores. Tudo isto preocupa o torcedor leproso, pois há um Torneo Inicial pela frente, e o clube já está classificado para a próxima Libertadores. Alfredo Berti, ex-jogador do clube e da seleção argentina assumirá o comando técnico. Jogadores como Scocco (artilheiro do time na temporada, com 29 gols em 43 jogos) e Heinze podem deixar Rosario - o atacante interessa a clubes brasileiros, enquanto o defensor pensa em se aposentar. Em relação ao mercado, o zagueiro Vergini renovou com o clube, enquanto os meias Bernardello, do Colón, e Manso, do Deportivo Cuenca/EQU, ambos revelados pelo Newell's, interessam. No entanto, aconteça o que acontecer, venha quem vier, será uma missão complicada manter o status que La Lepra retomou nestes últimos 18 meses. De um clube em situação falimentar a um dos mais fortes da Argentina, o Newell's Old Boys quer continuar a escrever esta história de sucesso.

Foto oficial do elenco campeão do Torneo Final 2013 (foto: Canchallena)

Nenhum comentário:

Postar um comentário