sexta-feira, 19 de julho de 2013

As 5 melhores contratações da temporada

Passadas as 19 rodadas do Torneio Inicial 2012 e as 19 rodadas do Final 2013, o momento é dos clubes fazerem um feedback da última temporada e planejar a próxima. Está presente, entre os principais tópicos discutidos em reuniões entre direção e treinadores, as contratações. Se renderam, talvez negociar uma renovação. Se foram apostas equivocadas, uma dispensa ou negociação.

Confira as 5 contratações que mais renderam na temporada 12/13:

5. José Luis Fernández (Benfica → Godoy Cruz)
Com a 19 azul e branca, voltou a apresentar bom futebol
(Foto: Fotobaires)
Chegou no início do ano por empréstimo do Benfica. Em 6 meses, demonstrou o mesmo futebol dos tempos de Racing que o levou aos Encarnados. No Benfica, praticamente não atuou. Foi emprestado para o Estudiantes, clube que vestiu a camiseta por poucos minutos. O mesmo ocorreu nos 6 meses, de julho a dezembro, de Olhanense. O meia ressurgiu vestindo uma camisa das cores azul e branca com sua velocidade e perna canhota característica. Na 14ª rodada, gol sobre o Vélez na vitória de 3 a 1 em Mendoza. Na rodada seguinte, marcou sobre o Racing, clube o qual foi criado, e comemorou. Na 16ª, chute cruzado e desvio em Braghieri, matando Campestrini e contribuindo para o 3 a 0 sobre o Arsenal. Participou de 18 jogos - 5 deles saindo do banco - e atingiu uma nota média de 5,27 do Diario Olé. Uma das melhores dos jogadores de sua posição, já que o jornal é muito criterioso. Além dos 3 gols, deu assistência em mais 2. 

4. Leonel Vangioni (Newell´s Old Boys → River Plate)
Deixou uma Libertadores para vestir a camisa millonaria
(Foto: La Página Millonaria)
A camisa pesou mais. Depois de 6 anos no Newell`s, Vangioni abriu mão de disputar uma Libertadores para vestir a camisa de um River Plate em formação com Ramón Díaz. 1,8 milhões de dólares foi o preço que o Millo pagou por 80% do meia esquerda/dublê de lateral. Quando chegou, Ramón Díaz disse que adaptaria a equipe com ele. E assim o fez. Mercado, lateral-direito, fecha como terceiro zagueiro quando Leonel atacava. Adaptação parecida com a Espanha de Jordi Alba e Arbeloa. Por ali, participou de 18 jogos na 2ª parte da temporada e marcou 4 gols. A maioria deles com seu chute forte de fora da área. Além disso, não comprometeu na defesa e foi eleito o melhor lateral-esquerdo do Final 2013 pela equipe do Olé.

3. Emmanuel Gigliotti (Novara → Colón)
No momento da foto, ninguém imaginava o que
estava por vir (Diario Olé)
Com empréstimo de uma temporada, o "matador caneleiro" - como me referi aqui  em sua apresentação - marcou 21 gols em 35 jogos, além de empatar com Scocco na artilharia do Final 2013. Mesmo com problemas contínuos no Colón, foi o melhor centroavante da temporada em solos argentinos, já que Scocco tem características de atacante móvel. Curuchet, Mugni, Tito Ramírez e Jorge Achucarro, seus parceiros de ataque ao longo da temporada, estiveram em péssima fase. Roberto Sensini renunciou, Pablo Morant assumiu sem dar resultados e Gigliotti permanecia lá fazendo seus gols em cabeceios, rebotes e luta dentro da área. Agora, com o fim do empréstimo, o Colón fez proposta para renová-lo junto ao Novara. Entretanto o Boca fez ótima proposta de compra aos italianos e levou. Chegou ao Xeneize declarando que gostaria de fazer 3% dos gols de Palermo no Boca. Seriam 7 gols. Faltou ousadia.

2. Maxi Rodríguez (Liverpool → Newell`s Old Boys)
No ápice da temporada, gol sobre o Atlético Mineiro
em uma semifinal de Libertadores (Goal.com)
Mesmo apresentando futebol regular no Espanyol, Atlético de Madrid e no Liverpool, a contratação de Maxi Rodríguez foi vista mais como uma aposta do que como um reforço de peso no início da temporada. Retornou ao clube o qual é torcedor fanático e o revelou, além de elevar Maxi ao posto de uma das principais revelações da época juntamente com D`Alessandro e Saviola na Argentina de Pekerman campeã do Mundial Sub-20 em 2001. No Inicial 2012, atingiu sua plena forma física somente na reta final da competição. No Final 2013, marcou 4 gols e liderou o Newell`s juntamente com Scocco ao título. Foi o principal jogador nas semifinais da Libertadores, competição que marcou 3 gols, contra o Atlético Mineiro, marcando um gol em Rosário e tendo grande atuação em Belo Horizonte, todavia finalizou a participação da Lepra tendo um pênalti defendido por Victor na decisão por pênaltis. Contabilizou 8 gols, várias assistências, muitas atuações importantes e a retomada de um excelente futebol. 

1. Ignacio Scocco (Al Ain → Newell`s Old Boys)
Scocco, o melhor jogador atuante na Argentina
(Foto: Télam)
Chegou por empréstimo de um ano. Se adaptou mais rapidamente do que Maxi Rodríguez e assumiu a titularidade logo nas primeiras rodadas do Inicial 2012. Com isso, marcou 13 gols no campeonato, dividindo a artilharia da competição com Facundo Chucky Ferreyra, do campeão Vélez. Atingiu a marca de 57% dos gols leprosos no campeonato. No Final, marcou 11 tentos, dividindo a artilharia com Gigliotti. Já jogando as fases finais da Libertadores, o Newell`s poupou muitas vezes Nacho e companhia. Mesmo assim a Lepra se sagrou campeã, e Scocco atingiu apenas 28% dos gols da equipe. Na Libertadores, dividiu a vice artilharia Diego Tardelli, os dois com 6 gols. Jô foi o artilheiro com 7. Para enfrentar o Atlético Mineiro dos artilheiros anteriormente citados, o Newell`s Old Boys comprou Ignacio por 1,8 milhões de dólares do Al Ain, já que seu empréstimo acabava. Agora, com a eliminação do maior clube do interior da Argentina, Scocco rumou à Porto Alegre por R$ 14,5 milhões onde defenderá as cores do Internacional. Na sua entrevista coletiva de despedida, anunciou que pretende se aposentar em Rosário com a camisa da Lepra.

Menções honrosas: Milton Casco (Gimnasia La Plata → Newell`s Old Boys), Matías Pérez García (All Boys → Tigre) e Marcelo Barovero (Vélez → River Plate).

domingo, 14 de julho de 2013

Renascendo de Lepra, parte 2

O caminho do Newell's que o Albiceleste Brasil retraça, rumo à recuperação de sua auto-estima, segue na segunda parte deste especial, que tratou no texto de sábado das campanhas do rojinegro entre 2010 e 2012. Neste complemento, vamos aprofundar o primeiro semestre deste ano, que entrou para a história do clube rosarino e certamente vai marcar uma geração de torcedores, assim como marcou e endossou a idolatria de uma geração de jogadores - e de um treinador muito acima da média.

Azeitando a máquina

O final de 2012 havia sido promissor. O time montado para fugir do descenso se tornou um dos melhores da Argentina, alcançando o vice-campeonato do Torneo Inicial daquele ano. (ao contrário do que dissemos no texto de ontem, Cáceres e Maxi Rodríguez já estavam naquele time.) Scocco cada vez mais se mostrava um atacante letal, e a estrutura do time montado por Tata Martino se consolidava a cada jogo, mostrando um futebol ofensivo, envolvente e de altíssima qualidade, comandados dentro de campo pelo citado centroavante, Maxi Rodríguez e Pablo Pérez, que retornou ao clube sem nenhum alarde, e se tornou um dos pilares do time. O primeiro semestre de 2013 reservava ao Newell's as disputas do Torneo Final e da Libertadores da América, obsessão do clube. Na competição local, o início foi claudicante. Uma derrota em casa por 3 a 0, contra o Lanús, e um empate contra o fraco San Martín, de San Juán, colocaram em xeque a capacidade da equipe.

Os problemas de se dividir entre duas...

Pablo Pérez fez gol importantíssimo
contra o Deportivo Lara (foto: El Sol Online)
Na rodada 4 do Inicial, o Newell's venceu bem o Belgrano, em Rosario, mas no meio da semana seguinte recebeu a Universidad de Chile, pela última rodada do turno da 2ª fase da Libertadores. A derrota por 2 a 1 deixou o time com 3 pontos em 3 jogos, precisando de uma campanha próxima da perfeição para se classificar às oitavas-de-final. Na revanche contra o time chileno, fora de casa, vitória por 2 a 0, e tranquilidade para focar no torneio doméstico no restante do mês de março. Deu certo, e março foi perfeito, com 4 vitórias em 4 jogos e a chegada no líder Lanús. Dali em diante, o time não desceria da vice-liderança. Abril começou com uma vitória sobre o Deportivo Lara, em Rosario, com 2 gols de Scocco - que chegava aos 4 na competição, em 5 jogos -, mas seguiu com uma derrota em casa, para o Colón, quando jogou com time misto. O time parecia sentir as dificuldades de conciliar duas competições importantíssimas, e parecia que ia botar tudo a perder mais cedo do que se imaginava.

Balança, não cai e embala

Scocco passa por Sosa para dar o
tiro de misericórdia no Vélez Sarsfield
(foto: Télam)
E quase botou. Mesmo tendo poupado seus principais jogadores, o Newell's foi a Assunção para garantir sua vaga, que só seria perdida caso sofresse uma goleada e a Universidad de Chile goleasse o Deportivo Lara, na Venezuela. La Lepra "fez sua parte" e foi massacrada no Defensores del Chaco, levando 4 a 1, em grande noite do uruguaio Salgueiro. O Newell's terminava sua participação na fase de grupos da Libertadores com 3 vitórias e 3 derrotas, se classificando pelo saldo de gols, na 2ª colocação do grupo 7 - uma vitória e uma derrota contra cada time da chave. O emparelhamento nas oitavas colocou o Rojinegro diante do atual campeão argentino, o Vélez Sarsfield. Foram duas verdadeiras batalhas. A classificação veio no gol qualificado, vencendo o Fortín em Liniers por 2 a 1, depois de ter perdido em casa por 1 a 0. No somatório das atuações, o Newell's impressionou a América do Sul, pois o Vélez sempre é cotado como um dos favoritos na Libertadores e, até então, o NOB era apenas um clube do interior argentino em ascensão.

Os 26 pênaltis que entraram para a história

Newell's desenvergou o varal e
despachou o Boca Juniors de La Copa
(foto: A Puro Gol)
Se a batalha anterior havia sido contra a qualidade, as quartas-de-final reservavam um duelo contra a tradição e a camisa "enverga-varal" do Boca Juniors, hexacampeão da Libertadores. Mas era "apenas" a camisa, pois dentro de campo os Xeneizes chegavam àquela etapa aos trancos e barrancos. Dois empates sem gols em jogos onde o Boca apenas se defendeu, e a decisão de uma das vagas às semi-finais seria decidida na marca da cal. Eu acompanho Libertadores da América com mais atenção há pelo menos 12 anos, e não lembrava de uma decisão tão longa. Foram necessários absurdos 13 pênaltis para cada equipe decidir seu futuro em La Copa. Na 26ª cobrança, Maxi Rodríguez converteu e classificou o time rosarino para enfrentar o Atlético Mineiro, time de melhor campanha na competição. A Libertadores pararia por todo o mês de junho, e apenas em julho seriam disputadas as semi-finais. Mas o Torneo Final continuava, firme e forte...

A glória no Dia da Bandeira

A festa dos jogadores do Newell's.
Aliás, belo visual do artilheiro Scocco...
(foto: Fútbol para Todos)
No mês de maio o Newell's chegou à liderança, ao bater o Godoy Cruz, em Rosario. O time contou com a sorte, com um Lanús que abusou do direito de empatar - mesmo motivo que tirou o título da Lepra no Torneo Inicial - e com um River Plate altamente instável. O massacre sobre o rebaixado Unión, combinado com a derrota parcial (o jogo fora interrompido) do Estudiantes sobre o Lanús, praticamente dava o título ao clube rosarino. O Granate respirou por aparelhos após golear o River Plate por 5 a 1, no mesmo domingo em que o Newell's bateu o Atlético de Rafaela por 3 a 0. Na tarde do dia 20 de junho, Dia da Bandeira na Argentina, o Lanús foi tentar sua façanha - virar um 2 a 0 contra o Estudiantes em 45 minutos, fora de casa. Não conseguiu, e La Lepra saía da fila de 9 anos sem título, conquistando o seu 6º campeonato nacional na história. Como nem tudo são flores nesta história, as derrotas para o Argentinos Juniors, na última rodada do Final, e para o Vélez Sarsfield, na chamada SuperFinal, colocaram a capacidade do time em dúvida, às vésperas de encarar o melhor time da Libertadores.

Não foram 26, mas foram pênaltis

Maxi Rodríguez lamenta pênalti
 decisivo desperdiçado contra o Atlético
(foto: Diario Olé)
No sábado o Newell's perdeu para o Vélez, na SuperFinal, e na quarta-feira já recebia o Atlético Mineiro, em um Coloso del Parque abarrotado e em chamas. Impondo um futebol intenso e submetendo os brasileiros a uma pressão insuportável, La Lepra venceu por 2 a 0, gols de Maxi Rodríguez e Scocco, que se tornava o artilheiro da competição, e conseguia gigantesca vantagem para a volta no Brasil. Os mineiros criaram todo um clima no entorno do jogo, incluindo uma queda de luz forçada na parte final do jogo, pouco antes do 2º gol atleticano, que levou a decisão novamente para os pênaltis. O destino colocava o futuro e o projeto do Newell's de ganhar a América novamente na marca da cal. O Rojinegro teve duas oportunidades de passar à frente, após Jô e Richarlyson desperdiçarem suas penalidades; Casco e Cruzado também erraram na sequência. O último e decisivo penal foi cobrado por Maxi Rodríguez, que voltou a encerrar uma decisão por pênaltis, desta vez parando no goleiro adversário.

Há vida depois de Tata?

O técnico Gerardo Martino havia anunciado, ainda antes da Libertadores, que sairia do clube depois da Copa. Pode haver um desmanche também no grupo de jogadores. Tudo isto preocupa o torcedor leproso, pois há um Torneo Inicial pela frente, e o clube já está classificado para a próxima Libertadores. Alfredo Berti, ex-jogador do clube e da seleção argentina assumirá o comando técnico. Jogadores como Scocco (artilheiro do time na temporada, com 29 gols em 43 jogos) e Heinze podem deixar Rosario - o atacante interessa a clubes brasileiros, enquanto o defensor pensa em se aposentar. Em relação ao mercado, o zagueiro Vergini renovou com o clube, enquanto os meias Bernardello, do Colón, e Manso, do Deportivo Cuenca/EQU, ambos revelados pelo Newell's, interessam. No entanto, aconteça o que acontecer, venha quem vier, será uma missão complicada manter o status que La Lepra retomou nestes últimos 18 meses. De um clube em situação falimentar a um dos mais fortes da Argentina, o Newell's Old Boys quer continuar a escrever esta história de sucesso.

Foto oficial do elenco campeão do Torneo Final 2013 (foto: Canchallena)

sábado, 13 de julho de 2013

Renascendo de Lepra, parte 1

Aqui começava esta incrível história
de recuperação (foto: Diario El Litoral)
De virtualmente rebaixado, ao grupo das 4 melhores equipes da América do Sul. O Newell's Old Boys recuperou muito de seu prestígio nos últimos 2 anos. Depois de um 2011 desastroso, a hinchada rojinegra viu - e participou de - uma reação institucional que raramente é vista no mundo do futebol. Tudo isto, claro, protagonizado por alguns de seus maiores ídolos da história recente, que voltaram a Rosario para colaborar de forma decisiva para esta retomada. Vamos conhecer esta história em um especial, em duas partes, esta sendo a primeira; a segunda, será publicada na noite de segunda (15). Para começar, voltamos um pouco no tempo, mais especificamente para o ano de 2010. No segundo semestre do ano anterior, o Newell's havia perdido o Apertura de forma dramática, sendo derrotado em casa pelo San Lorenzo na última rodada, enquanto o Banfield (que foi o campeão) também perdeu, para o Boca, em La Bombonera. Treinado por Roberto Sensini, o time contava, entre outros, com o ídolo Bernardi, Fórmica e o artilheiro uruguaio Boghossian.

Decepção dupla no centro da Terra

A grande campanha em 2009 garantiu La Lepra na Copa Libertadores da América do ano seguinte. Ali começou a desandar o time rosarino. Com a 3ª melhor campanha no ano, fora os campeões, o Newell's foi disputar a 1ª fase, em duelo de ida e volta, contra o Emelec, do Equador. Foi um desastre. A eliminação devastou o moral do ótimo elenco. A equipe que tinha condições de lutar pelos campeonatos, foi o 6º no Clausura e o 9º no Apertura, muito aquém de suas capacidades. Com isto, o time ficou fora da Libertadores de 2011, 9 pontos atrás do Argentinos Juniors, o último classificado. Na Copa Sul-Americana de 2010, eliminação para a Liga de Quito, nas quartas-de-final. Pela segunda vez no ano a equipe caía no Equador; na Libertadores, a derrota por 2 a 1 em Guayaquil condenou os leprosos, enquanto na Sul-Americana, na altitude de Quito, foi um revés por 1 a 0 que condenou os rojinegros. Mais uma coincidência: nos jogos do Coloso del Parque, dois empates sem gols. No jogo de volta contra a Liga, o meio-campo já contava com Mateo e Bernardi.

Um 2011 para se esquecer. Ou não...

Fórmica (10) foi o principal jogador
do Newell's entre 2006 e 2010
(foto: Reuters)
Em grande crise financeira, sem vaga para a Libertadores da América, o começo de 2011 foi complicado no Parque de la Independencia. O clube entrava no seu sétimo ano sem título e a única alegria para o torcedor leproso era ver o seu arquirrival Rosario Central afundado na Primera B Nacional. Houve um desmanche no elenco, com a saída de, entre outros, Mauro Fórmica, destaque do time nos anos anteriores. Claudio Bieler, que se destacou muito na Liga de Quito, e que estava encostado no Racing, era o principal reforço para o Clausura. Foi um desastre, assim como o restante da equipe, vice-lanterna, com 16 pontos em 19 jogos. Sensini fora demitido ainda no Clausura, e depois dele passaram outros 4 treinadores pelo Coloso del Parque. Obviamente não tinha como dar certo: a pontuação no Apertura foi a mesma do Clausura, com apenas uma vitória, na 4ª rodada.

A retomada nas mãos de um ídolo

Tata Martino retornou ao Newell's
no final de 2011
(foto: futbolargentino.com)
O desempenho no ano de 2011 ligou o alerta no Parque de la Independencia. Sim, os promedios começavam a preocupar e a briga contra o descenso era uma realidade. Para tentar mudá-la, Gerardo Tata Martino, ídolo dentro de campo e de bom trabalho na seleção paraguaia, foi o nome buscado. A ideia era fazer pontuação suficiente para evitar a queda. O time não se reforçou, apostou no elenco disponível e nomes como Sperduti, Urruti e Pablo Pérez passaram a render muito melhor. Apenas uma vitória conquistada nos últimos 5 jogos do Clausura tirou a possibilidade de título, mas os 32 pontos foram suficientes para evitar a Promoción. O Torneo Inicial foi ainda melhor: o Newell's foi vice-campeão, com 36 pontos e apenas uma derrota no campeonato. O ano seguinte prometia, com reforços como Maxi Rodríguez e Cáceres, que começariam a formar a equipe que entrou para a história, e que veremos mais a fundo na 2ª parte do nosso especial.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O efeito Busquets e o pecado do Galo


Costumo dizer que anular o jogo do Barcelona (ou da Seleção Espanhola) passa por anular o Sergio Busquets. O camisa 16 trouxe ao mundo do futebol uma nova função para o primeiro volante, além de destruir as jogadas: fazer a transição entre defesa e meio-campo. Em resumo, os brucutus estão com os dias contados.

Uma prova da importância de Busquets para o Barça e a Fúria é a distribuição de passes. Na semifinal da Copa das Confederações, contra a Itália, me dei ao trabalho de contar quantos e para quem foram direcionados os passes dele no jogo. Foram 42 passes (só um errado), dos quais 27 foram para Xavi (17) e Iniesta (10). Ou seja, 65% dos passes de Busquets foram para um dos meias criativos da seleção espanhola. Na primeira partida entre Barcelona e Bayern de Munique, pela semifinal da Champions League, os alemães deram uma mostra do que acontece quando o camisa 16 é anulado. Com Mario Gomez sempre na marcação, Busquets deu 30% dos passes que ele está acostuado a dar e o Barça levou um baile.

Como todos sabem, o Newell's tem um estilo meio Barcelona de jogo. Estilo de muitos toques e muita posse de bola. E muito disso passa pelo primeiro volante. Com o titular Villalba ainda se recuperando de lesão, coube a Diego Mateo a função de fazer a bola sair da defesa e chegar aos homens responsáveis por criar. E ele fez isso com maestria. E o lance que originou o primeiro gol do Galo demonstrou a importância de se ter um camisa 5 que sabe sair jogando.



Desculpem pela qualidade ruim do vídeo. Vi o lance ao vivo e me impressionei com a facilidade que o NOB chegou ao ataque. Foram 12 toques na bola desde o goleiro até a chegar à grande área adversária. No VT do jogo, percebi que foi esse lance que originou o escanteio do primeiro gol. Então, quando estava vendo o VT pela segunda vez, filmei o lance.

Percebam que quando a bola chega ao Heinze, a marcação individual está funcionando direitinho. O zagueiro não tem opção de passe a não ser o encurralado lateral esquerdo Casco.
Marcação individual do Galo na saída de bola do NOB
Marcação individual do Galo na saída de bola do NOB
O zagueiro, então toca para Casco. Ronaldinho não acompanha a marcação de Diego Mateo e deixa o camisa 5 livre para receber a bola. O grande erro. Se ele acompanha o volante rubro-negro, o lateral ficaria sem opção de passe e isso quebraria o sistema de jogo do Newell's, de bola no pé. Provavelmente ele teria que dar um chutão para a frente.
Ronaldinho não acompanha Mateo e deixa o camisa 5 livre para receber a bola
Ronaldinho não acompanha Mateo e deixa o camisa 5 livre para receber a bola
Quando Mateo recebe a bola livre no meio, ele fica com o campo aberto e tem duas opções para distribuir o jogo. Além disso, a primeira linha de marcação do Galo foi quebrada, obrigando o sistema defensivo do Atlético a se reorganizar. É aí, que Mateo encontra Figueroa sozinho para começar a criação ofensiva do time.
Já com a bola dominada e com a primeira linha de marcação do Galo quebrada, Mateo tem duas opções de passe
Já com a bola dominada e com a primeira linha de marcação do Galo quebrada, Mateo tem duas opções de passe. Jô, Tardelli e Ronaldinho já são 3 a menos no sistema defensivo
Na sequência do lance, outra marca registrada desse time de Gerardo Martino. A grande movimentação dos homens de frentes e a constante troca de posição entre eles. Algo que deu muito certo e confundiu o sistema defensivo do Atlético foram as ultrapassagens dos laterais (especialmente Cáceres pela direita) e as entradas em diagonal dos pontas.

nobxgalo

A tendência de Scocco de cair para a ponta esquerda pode ser bem observada nesse lance. Depois de pegar a bola, Figueroa espera a passagem de Casco, mais centralizado. O lateral atrai a atenção dos dois marcadores do lado direito do Galo (Marcos Rocha e Tardelli) e percebam que Scocco vai ficar livrinho na ponta esquerda.
Casco atrai a marcação de Marcos Rocha e Tardelli, deixando Scocco livre na esquerda
Casco atrai a marcação de Marcos Rocha e Tardelli, deixando Scocco livre na esquerda
Quando Scocco recebe a bola na esquerda, Casco já se projeta à linha de fundo para receber o passe e toma a frente dos zagueiros adversários. Ele recebe a bola e tenta o cruzamento. Daí, nasce o escanteio que saiu o primeiro gol do Newell's Old Boys.
Com tempo e espaço, Scocco recebe na ponta esquerda. Casco já se projeta para receber a bola na linha de fundo
Com tempo e espaço, Scocco recebe na ponta esquerda. Casco já se projeta para receber a bola na linha de fundo
O Galo teve apenas 20 minutos bons no jogo. Coincidência ou não, foram os 20 minutos em que o time marcou na frente e obrigou o Newell's, muitas vezes, a sair dando chutão para a frente. Para tentar reverter o placar da ida, o time mineiro precisa marcar a saída de bola. E, como acabamos de ver, todos os jogadores precisam estar engajados e ajudar um pouco. Ronaldinho não acompanhou R10 já tem 33 anos, não é nenhum garoto. Sim, mas Mateo tem 34 e também não é nenhum garoto. Nesse lance, era só acompanhar. Não precisa ficar o jogo inteiro correndo atrás da bola, mas essa saída de bola do Newell's precisa ser anulada para o Atlético-MG chegar à tão sonhada final de Libertadores.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Raio-x do Newell's campeão do Torneo Final



O estilo Barcelona de jogo chegou à América do Sul. Tá, tudo bem que já havia chegado com a La U que encantou o continente em 2011, mas o Newell’s Old Boys, campeão do Torneo Final, também trouxe um pouco da filosofia de jogo implantada pelo time catalão.

Não é por acaso que o time de Rosário tem um futebol tão parecido com o do Barça. O grande responsável por essa semelhança entre Newell’s e Barcelona se chama Marcelo Bielsa. ‘El Loco’ é o mentor tanto de Pep Guardiola quanto de Gerardo Martino.

Tata Martino voltou ao Newell’s no final de 2011, a princípio para salvar a equipe do rebaixamento (naquela altura, o time estava na mesma situação do Independiente, time que foi rebaixado pela primeira vez na sua história nesta temporada). O caso de amor com o rubro-negro rosarino vem de muito antes. Martino foi um meia bastante habilidoso da Lepra na década de 80. Fez parte do histórico time campeão só com jogadores da cantera do clube (na temporada 87-88) e também venceu o Clausura-92. Tata esteve nas duas campanhas em que o time foi vice-campeão da Libertadores (88 e 92) e pode se gabar de ter jogado ao lado de Maradona, quando El 10 defendeu as cores do rubro-negro, em 93.

Jogador com maior número de partidas disputadas (505) e com maior número de títulos (4), Gerardo Martino dá nome a um dos setores do Estádio Marcelo Bielsa, casa do Newell’s Old Boys.

O TÍTULO

Apesar do futebol que encantou a Argentina, e boa parte da América do Sul, o Newell’s teve uma equipe inconstante durante todo o campeonato. Muito disso se deve à briga simultânea pelo Torneo Final e pela Libertadores. Durante toda a competição, Martino fez um rodízio entre os jogadores, chegando a escalar o time inteiro reserva em algumas partidas.

Com 38 pontos conquistados em 19 jogos, o clube foi o segundo pior campeão da era dos torneios curtos, à frente apenas do próprio Newell’s de 2004, que somou 36 pontos. A campanha irregular teve 12 vitórias, dois empates e cinco derrotas (maior número de revezes de um campeão).

Apesar dos números dizerem o contrário, o time teve até certa tranquilidade para levantar o troféu Quando entrou em campo na penúltima, já era campeão. Terminou o campeonato com três pontos de vantagem para o segundo colocado, mas a verdade é que, na reta final, o time de Martino, Scocco e cia. jamais teve a liderança realmente ameaçada.

Os números não mentem. Um ou outro pode mentir. Mas juntos, eles provam: o Newell’s foi o campeão merecido. La Lepra jogou um futebol barcelonístico, jogou um futebol ofensivo, bonito. Terminou o campeonato com 40 gols, enquanto o segundo melhor ataque fez nove gols a menos. Foi o time que mais chutou a gol. Foi o time que mais trocou passes. Foi o time que menos fez faltas. Venceu. E com justiça.

O TIME

Relembrando um pouco 88, o Newell’s apostou na cantera. Mas a aposta não foi só nos jovens revelados no clube, mas também nos filhos pródigos que voltaram à casa para festejar mais uma vez. Foram esses os casos de Maxi Rodríguez, Gabriel Heinze e Nacho Scocco. Dos onze titulares (se é que podemos dizer que existem 11 titulares), apenas quatro não foram revelados em Rosario: Vergini, Casco, Cruzado e Figueroa.



O estilo Barcelona de jogo se baseia em três pilares: manutenção de posse de bola, movimentações em diagonal e busca rápida pela recuperação da bola. E essas três bases foram muito bem exploradas pela equipe de Martino. Marcando ora com quatro, ora com cinco ou até seis homens no campo ofensivo, o Newell’s tratava de recuperar a bola com rapidez. Com grande qualidade no passe dos volantes (especialmente Pérez e Villalba), as subidas dos laterais (Casco com mais frequência que Cáceres) e as constantes trocas de posição entre os três homens de frente, as movimentações em diagonal davam condição da bola atravessar a defesa adversária. E a manutenção da posse de bola vem das jogadas iniciadas pelos zagueiros que têm condições para sair jogando sem dar bico pra frente o tempo inteiro (ainda que Heinze tenha complexo de Gérson e vez ou outra queira fazer um lançamento de meio campo, que geralmente sai errado) ou até mesmo pelo goleiro Guzmán (que sabe jogar com o pé). A segunda bola encontra sempre os técnicos volantes (Villalba, Pérez ou Bernardi), que acionam os homens de criação do time. Aliás, pelas constantes trocas de posição, muitas vezes os próprios volantes são os homens de criação.

No ataque, os pontas (geralmente Maxi e Figueroa) se movimentam muito em diagonal e dão aos laterais o espaço que eles precisam nos flancos. Além disso, Scocco também tem papel fundamental. Seja como 9 ou como falso 9. Artilheiro da equipe, com 16 gols no ano, Nacho também pode sair da área e fazer o papel de um camisa 10, ou cair pelos lados do campo e fazer o papel de um ponta. Assim, saindo da área ou fazendo o pivô, o camisa 32 (no Campeonato Argentino e 21 na Libertadores) já soma cinco assistências.

Além de um bom onze, Martino conta com um banco recheado de boas opções. Para se ter uma ideia, no meio de campo, nove jogadores atuaram mais de dez vezes no Campeonato Argentino, sendo que (se contarmos os pontas como meias) Martino usa um esquema com cinco jogadores de meio.

Jogadores como Tonso, Orzán, Muñoz e Urruti são sempre utilizados como opções no decorrer das partidas. Aliando a experiência com a juventude o Newell’s conseguiu adaptar um estilo de jogo. Mas o mais importante: com jogadores que conhecem o clube desde pequenos.

DUELO CONTRA O GALO

O duelo entre Atlético-MG e Newell’s tem de tudo para ser uma ode ao bom futebol. Dois time que atuam para a frente, que sabem o que fazer quando têm a bola no pé, que marcam o adversário no campo de ataque e que têm jogadores habilidosos e capazes de decidir a partida em um lance.

O Galo vai jogar com a dupla de zaga reserva. Isso pode ser muito bom para os argentinos. A falta de entrosamento pode ser um fator preponderante na dificuldade de marcar as diagonais do Newell’s. A constante movimentação pode confundir o sistema defensivo do Atlético e é bom os mineiros ficarem de olho nas costas do Marcos Rocha.

Como ponto fraco, o rubro-negro pode sofrer com a velocidade dos pontas brasileiros. Heinze e Vergini são zagueiros lentos e podem ter dificuldade de acompanhar as entradas de Bernard e Tardelli. Ainda mais se os laterais resolverem atacar demais. Deixar o quarteto ofensivo atleticano no mano a mano, não é uma boa ideia.

O confronto vai ser uma batalha pelo meio de campo, já que são dois times que gostam muito mais de jogar com a bola no pé do que esperar um lance para sair no contra-ataque. E quem tiver mais posse de bola, tem mais chance de chegar à final.