Estranho seria se o Fluminense fizesse seis pontos sobre o Boca Juniors em dois jogos pela Copa Libertadores. Estranho seria se o tricolor das Laranjeiras emendasse cinco vitórias seguidas depois de apresentações deficientes. Estranho seria se um time com dois volantes no diminutivo, Edinho e Diguinho, formassem o meio-campo da equipe de melhor campanha na primeira fase da competição. O que as 36 mil almas viram na noite desta quarta-feira, no Engenhão, foi o retorno da normalidade. A Terra voltou a girar. O Boca Juniors esfregou na cara do Brasil o diploma de pós-graduação na Escola Superior do Pragmatismo e venceu o Fluminense por 2×0, garantindo vaga nas oitavas-de-final da Copa.
Anormal era a sequência de quatro vitórias de Los Once de Unimed. Abel tem um excelente grupo na mão. Quando The Braga Boys jogam afinados, estão no topo do continente. Mas, por mais que a escalação tenha salários equivalentes à economia do Paraguai, a equipe vinha vencendo sem mostrar qualquer sinal de que seguiria vencendo. Se não acredita no nosso testemunho, acredite nos números: foram cinco gols em cinco partidas e três vitórias suadas. Contra o Arsenal, na estreia, o 1×0 se justifica pelo nervosismo, volta de férias ou qualquer outra mandinga. Mas, contra o glorioso Zamora, as vitórias também foram mínimas – no placar e no campo. A única boa partida foi na Bombonera, contra o mesmo Boca Juniors. Com esse currículo, era forçado acreditar que os 100% e a liderança na TABLA geral do certame eram concretados em pilares sólidos.
Em campo, o Fluminense mostrou a rotina pouco inspirada. De um lado, Wellington Nem (a melhor figura da equipe na temporada) corria como se preparasse para Londres 2012. Do outro, o lateral Carlinhos acertava um cruzamento ou outro. No meio, Deco armava isolado, feito um parlamentar em busca de apoio para reduzir o salário dos colegas. Lhe faltava companhia: Edinho e Diguinho não contribuem à frente e Thiago Neves… onde anda Thiago Neves? Quando a bola chegou em Fred, o centroavante dominou um cruzamento no peito e chutou sobre Orion.
A inoperância tricolor servia ao esquadrão xeneize. Porque o Boca se propõe a dar algumas botinadas e, se o adversário permitir, chutar uma outra bola em gol. SE o adversário permitir – ainda mais sem Riquelme, machucado. E o Fluminense permitiu. Aos 33 do primeiro tempo, a zaga do Boca deu um balão para frente e Leandro Euzébio cabeceou para trás. Ninguém conseguiu cortar, e Darío Cvitanich se desvencilhou de Diguinho, que tomou feito um xaxim seco, e marcou o primeiro dos argentinos. O leitor tem o direito de perguntar: o Boca não joga nada e ganha elogios; o Flu não joga nada e leva pau? A dúvida é justa. Mas a realidade é um pouco mais complexa. Não é à toa que 36 mil tricolores encheram o Engenhão nesta noite. Eles esperavam ver o Fluminense da Bombonera, esperavam vem a ressurreição de Thiago Neves, queriam Fred pedindo música no Fantástico, queriam assistir Deco distribuindo chapéus na intermediária. Tricolores e xeneizes possuem o inalienável direito de vencer jogando pouco – é a Libertadores, oras -, mas há uma clara diferença de expectativas entre as duas equipes. O Flu seguirá adiante quando encontrar MAGIA no seu futebol, porque é o que se espera dos salários bancados pela Unimed. Enquanto o Boca SE PROPÕE a amorcegar o jogo e fazer o mínimo necessário para vencer. Nesse sentido, a partida do Flu foi horrível, e a dos argentinos, perfeita.
Tudo poderia ser diferente se, no final do primeiro tempo, Fred tivesse convertido bom cruzamento pela direita, mas Orion salvou mais uma vez. Para o segundo tempo, Abel tentou uma formação mais agressiva, tirando Edinho após se dar conta que o volante possui uma tatuagem de uma onça que caminha por um JARDIM FLORIDO no braço esquerdo – inadmissível até para o delicioso ofensivismo irresponsável de Abel Braga. Entrou Jean, que pouco contribuiu. Fred deixou o campo sentindo alguma lesão muscular ou vontade de conferir o que rolava no bizarro camarote VIP que ganhava atenção demasiada de um importante canal de televisão nacional cujo nome será omitido a fim de poupá-los da VERGONHA. Wellington Nem seguiu sendo o único capaz de provocar algum furdunço nas trincheiras azul y oro.
No entanto, aos 29 minutos, Santiago Silva fez (de novo) boa tabela com Mouche e deixou o atacante livre para cruzar para a área. A defesa tricolor se atrapalhou e deixou Sánchez Miño em condições de decretar os 2×0. Aos 40 minutos, WELLECTRON NEM mais uma vez saiu correndo em busca do novo recordo dos 100m rasos e foi parado dentro da área por El Flaco Schiavi, que resolve da maneira correta as limitações impostas pelos 39 anos de idade. Rafael Moura, que havia ingressado em campo no lugar de Fred, pediu para bater e jogou a meia altura. Não bateu totalmente mal, mas telegrafou e facilitou para Orion.
Com isso, Boca está classificado e pode até roubar o primeiro lugar do Flu na última rodada caso o tricolor perca para o Arsenal, em Sarandí. A esquadra xeneize pega o Zamora, na Bombonera.
http://impedimento.org/2012/04/12/a-vitoria-da-normalidade/) pelo Alexandre de Santi.
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