domingo, 13 de outubro de 2013

Ressaca mor(t)al

"Muchachos, traigan viño, juega l'Acade
Que esta banda esta de fiesta
Y hoy no podemos perder

Muchachos, traigan viño, juega l'Acade
Me emborracho, bién borracho
Si el Rojo se va a la B"

Quem já tomou um porre de vinho sabe como é o after day.  Dores de cabeça violentíssimas, vômitos na maioria dos casos, é um caos. O caos parece ter tomado conta do Racing Club de Avellaneda, após o rebaixamento do arquirrival Independiente. Na atual temporada, 12 jogos e inacreditáveis 10 derrotas para 2 empates, somados os resultados do Torneo Inicial e da Copa Sul-Americana. Em pouco mais de dois meses, o clube está indo para o seu TERCEIRO treinador, foi despachado da Sul-Americana e o presidente Gastón Cogorno renunciou ao cargo há cerca de duas semanas - sem contar a lanterna consolidada no âmbito doméstico, do qual o clube não sairá nas próximas duas rodadas, mesmo que vença os jogos contra Estudiantes e Vélez Sarsfield.

Imagem recorrente ao final dos jogos do Racing nesta temporada
(foto: Reprodução / Photogamma)
A comemoração pelo fracasso do tradicional rival subiu à cabeça não apenas dos torcedores, mas de todos que lidam com o futebol no blanquiceleste. O pior de tudo é que a pré-temporada foi promissora, ao menos no mercado de transferências, ainda que o clube tenha mantido no comando técnico o contestadíssimo Luis Zubeldía, que tinha como principal trunfo o ótimo trabalho feito com os garotos promovidos ao time principal na temporada anterior, como Vietto e De Paul. A única perda relevante foi do armador Luis Fariña, que deveria ter sido reposta (ao menos na teoria) pelo uruguaio Mario Regueiro, com o plus do retorno do atacante Valentín Viola, que fracassara no futebol português. No papel, o time parecia que daria trabalho e ao menos melhoraria a já razoável campanha do Torneo Final, no primeiro semestre.

O personagem que mais deu o que falar no futebol argentino na temporada passada claramente foi o "fantasma de la B", corneta que se tornou institucionalizada quando a queda do Independiente era irreversível. Mas, sabemos, todo morto que se preze tenta puxar seu inimigo pelo pé. Enquanto o Rojo derrapa na Primera B Nacional, o Racing não sabe o que é vitória na elite. A arrancada é a pior da história do clube nos torneios curtos, superando o início do Clausura 2006, quando nos 10 primeiros jogos, La Academia fez apenas 3 pontos. A pontuação antes da temporada 2005/2006 era boa, mas o desastre do primeiro semestre de 2006 foi apenas o começo de más campanhas em sequência que levaram o clube a disputar - e vencer - a temida (e extinta) Promoción em 2008. Fica o aviso.

Na atual temporada, dentro de campo, a estreia foi aceitável, empate com o Colón, em Santa Fe. O gol de Bruno Zuculini logo no início do jogo dava a entender que o Racing vinha forte. Ledo engano. A 2ª rodada reservava um desastre, em pleno Cilindro: a derrota avassaladora por 3 a 0 para o San Lorenzo foi uma pancada muito forte no moral da equipe. Na sequência, a eliminação para o Lanús na Sul-Americana e a derrota como mandante para o Arsenal custaram o cargo de diretor técnico a Zubeldía. Começava o show de incoerência da diretoria acadêmica: foram sondados Gustavo Costas, ídolo histórico dentro de campo, Omar De Felippe, de ótimo desempenho no Quilmes (e que parou, coincidentemente, no Independiente) e Jose Pepe Romero, que levou o pequeno All Boys ao convívio dos gigantes.

Ischia em seu último jogo como DT do Racing
(foto: Reprodução / Diario Deportivo Olé)

Nenhum deles veio e para o comando técnico da equipe chegava Carlos Ischia, de resultados contestáveis na carreira e apenas um título de vulto e mérito no futebol argentino, o Apertura 2008, dirigindo o Boca Juniors. O time ainda perderia para o All Boys, dirigido pelo interino Fabio Radaelli. Ischia comandou o time pela primeira vez em 7 de setembro, empatando com o Lanús, no Cilindro. Depois disto, 4 derrotas na sequência fizeram com que o treinador pedisse as contas, após o fracasso como local contra o Atlético de Rafaela. Pensamento mágico, que maldição! Para o lugar de Ischia, foi anunciado na última quinta-feira Reinaldo Mostaza Merlo, técnico no último título do clube, o inesquecível e histórico Apertura 2001. Ironicamente, é o único título no currículo do treinador.

Antes disto, o presidente Gastón Cogorno cedeu à pressão dos hinchas e deixou o clube, assim como toda a direção de futebol. O comando do clube está nas mãos de Victor Blanco, um dos homens de confiança de Cogorno - aliás, a chegada de Merlo ao clube é uma imposição do novo mandatário. Resta saber se o pensamento mágico trará resultados, porque se formos nos embasar na capacidade e nos resultados de Mostaza ao longo de sua carreira, não podemos vislumbrar um futuro muito brilhante para o Racing. Os hinchas já perderam a paciência e não querem que o "fantasma de la B" atravesse a Almirante Cordero. Se a campanha não melhorar, as próximas temporadas tendem a ser dramáticas. Já passamos da metade do Torneo Inicial e só o que queremos é que este porre acabe de uma vez por todas.

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