segunda-feira, 21 de outubro de 2013

De Che a Messi


Em Rosario a vida se apresenta em uma constante dualidade. A linda cidade construída às margens do rio Paraná é uma das três na Argentina — ao lado de Córdoba e La Plata — onde os cinco gigantes de Buenos Aires não dominam a preferência da população local. Toda criança nascida em Rosario precisa fazer a escolha que vai defini-la e acompanhá-la ao longo de sua vida: ser CANAYA (assim mesmo, com Y, como preferia o genial escritor Roberto Fontanarrosa), ou ser LEPROSO.
Lionel Messi precisou responder essa mesma pergunta há duas décadas aproximadamente. Ou talvez nem tenha respondido. Provavelmente seu pai, torcedor fanático do Newell’s, não quis dar chance ao azar e foi logo vestindo o filho caçula com o uniforme completo do rojinegro argentino, assim como já havia feito com os irmãos mais velhos.
Mas muito antes dele, outro rosarino famoso internacionalmente decidiu inclinar-se pela outra face dessa moeda que gira incansavelmente no ar. “Sou de Rosario. Do Rosario Central. Eu sou rosarino”, respondia Ernesto “Che” Guevara sempre que era indagado sobre seu time de coração. A afirmação é de Hugo Gambini, biógrafo de Che. Não que a paixão pelos times de futebol da cidade seja maior em Rosario, mas, definitivamente, ela é vivida de uma forma muito mais intensa e completa.
Neste domingo, 42 mil almas CANAYAS fizeram o Gigante de Arroyito pulsar forte com a volta do clássico. Desde o descenso do Central em 2010 que os eternos rivais não se encontravam em partidas oficiais. Muita festa, papel picado, bandeiras e faixas enfeitaram o estádio em um cenário perfeito para uma festa pintada em azul e amarelo.
O Newell’s é muito mais time e isso nem se discute. É o atual campeão argentino e líder absoluto do “Torneo Inicial”. Tem o melhor elenco e joga o futebol mais vistoso e eficaz do país. Mas aí está uma partida onde nada disso importa.
Quando aos 11 minutos do primeiro tempo, o zagueiro Donatti desviou de cabeça para o fundo do gol abrindo o placar para os donos da festa, todas as estatísticas, todos os números, todo o favoritismo e toda a razão se afogaram no mar de felicidade do Central.
Um gol que deve ter feito “Che” Guevara e Roberto Fontanarrosa se abraçarem no Céu dos torcedores CANAYAS. Mas era muita saudade. Era um CENTRAL – NEWELL’S depois de mais de três anos e ninguém queria perder. Muito menos Maxi Rodíguez que, além de jogador, é torcedor assumido da camiseta que veste. Foi ele quem se ocupou em deixar tudo igual com uma diferença de três minutos. Fez questão de comemorar à la Riquelme; com as mãos nos ouvidos como quem se esforçava para escutar os gritos que vinham da arquibancada.
Em Barcelona, Lionel Messi deve ter saltado de felicidade abraçado à família e com “Tata” Martino pendurado em seu pescoço. Desde algum lugar no planeta Terra, também comemorou Marcelo Bielsa, só que certamente de uma maneira muito mais contida e reservada.
Se o que Maxi queria escutar eram os gritos vindos da arquibancada… ele teve o seu pedido atendido. Encina aproveitou a bola que sobrou ABANDONADA na área de Guzmán e definiu, ainda no primeiro tempo, a vitória do Rosario Central por 2 a 1.
A partir daí tudo era festa. Chutão para bem longe… festa. Entrada violenta em quem vestia uniforme rubro-negro… festa. Qualquer passe curto e sem objetivo do Central… festa. Apito final do árbitro… FESTA!
O domingo estava predestinado a ser de festa. E o Rosario Central FINALMENTE pôde fazer a sua.
Postado originalmente por Leonardo Lepri Ferro no site do Impedimento (http://impedimento.org/de-che-a-messi/) e reblogado com a autorização do mesmo.

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