sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Raio X: San Lorenzo



Club Atlético San Lorenzo de Almagro. A sigla CASLA, na Argentina, pode, também, ter outro significado: Club Atlético Sin Libertadores de América. O San Lorenzo é motivo de chacota entre os torcedores de outros clubes por ser o único dos cinco grandes que nunca venceu uma Libertadores. A Copa é a obsessão dos Cuervos. E para 2014, não seria diferente.

Boedo se enche de ilusión. Depois de amargar uma seca de seis anos sem títulos, o azul-grená entra na Copa Libertadores como atual campeão argentino. Venceu o Torneo Inicial 2013 na última rodada, com um empate contra o Vélez em Liniers. O clube já tem seu objetivo em mente: vencer a competição pela primeira vez na história. O zagueiro Pablo Alvarado já garantiu:

"Estamos dispostos a fazer uma boa campanha no Campeonato Argentino, mas, sem dúvidas, nosso objetivo é a Copa Libertadores. Tentaremos ir passo a passo para chegar o mais longe possível", afirmou o defensor.

O primeiro confronto não é nada fácil. Na terça-feira, o San Lorenzo visita o Botafogo no Rio de Janeiro, um adversário indesejado pelos Cuervos.

"Não era o (adversário) que queríamos. Mas já sabíamos que seriam eles. Vai ser complicado", revelou o técnico Edgardo Bauza, quando perguntado sobre a classificação do Botafogo frente ao Deportivo Quito na primeira fase da Libertadores.

De Maracanã e de Libertadores, o Patón Bauza entende bem. Em 2008, era ele o comandante da LDU quando a equipe equatoriana foi campeã no Maior do Mundo, derrotando o Fluminense nos pênaltis. O comandante chega para substituir o espanhol Juan Antônio Pizzi, que após conquistar o Inicial, foi treinar o Valencia.

Bauza ganhou três reforços para tentar a conquista da Libertadores: o zagueiro colombiano Carlos Valdés (semifinalista da última edição com o Independiente Santa Fé), e os atacantes Mauro Matos (ex-All Boys) e Nico Blandi (ex-Boca Juniors).

Com a filosofia de que "um time sólido defensivamente pode construir muitas coisas", o Patón não mudou muita coisa em relação ao time campeão com Pizzi. As famosas duas linhas de quatro, com Correa caindo pelos lados no ataque e Blandi centralizado.

O San Lorenzo de Bauza contra o Olimpo: um 4-4-2 disfarçado de 4-2-3-1

A estreia no Torneo Final não foi das melhores. Apesar de ter sido superior o jogo inteiro, o San Lorenzo perdeu para o Olimpo, em Bahía Blanca, por 2 a 0. O primeiro gol, marcado por Miralles (AQUELE), nasceu de uma falha de Alvarado, enquanto o segundo foi marcado em jogada de escanteio. A equipe atuou num 4-4-2, com duas linhas de quatro. Na defesa, destaque para os avanços do incansável lateral direito Julio Buffarini. Seu xará César, que já teve problemas com bolas nas costas no Equador, que se cuide. O 'Beckham de Boedo' tem o apoio do interminável Leandro Romagnoli, que mesmo com 32 anos, ainda tem fôlego para criar e ajudar na ocupação de espaços pelo lado direito. Na esquerda, o arisco Ignacio Piatti cria muito e joga cortando pro meio para bater pro gol. Não à toa, foi artilheiro do Ciclón na conquista do Torneo Incial, com 11 gols. A volância é composta por Mercier e Ortigoza. Quatro anos depois, os dois voltam a reeditar a dupla que fez muito sucesso no Argentino Juniors, campeão do Apertura-10. O ponto forte da dupla é a qualidade na saída de bola. O que pode atrapalhar é a velocidade. Mercier, com 34 anos, já não é mais nenhum garoto, enquanto Ortigoza, com sua barriguinha saliente, nunca primou pela velocidade. Se Lodeiro e, talvez Wallyson, resolverem aprontar uma correria pela faixa central do campo e o Botafogo apresentar a mesma dinâmica de boa parte de 2013, pode complicar e muito a vida dos marcadores. No ataque, Correa joga caindo muito pelos lados do campo e Blandi (não me surpreenderia se aparecesse Mauro Matos no comando de ataque no Maracanã) centralizado.

O San Lorenzo foi campeão argentino sem apresentar um futebol que enchesse os olhos de qualquer amante do futebol. Mesmo assim, foi eficiente. Na pré-temporada, foram quatro vitórias em quatro jogos (San Martín de San Juan, Santamarina de Tandil, River Plate e Danubio-URU). A derrota para o Olimpo foi um desvio de trajeto. Não é nenhum bicho de sete cabeças.

Mas, com a aplicação tática, a raça de seus jogadores e uma ajudinha divina do Papa Francisco, o San Lorenzo tenta, enfim, desmistificar o ditado de que "la Copa se mira y no se toca". Para o pessoal em Boedo, chegou a hora de tocar na Copa Libertadores. Quem viver, verá.